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"Não cobiço nem disputo os teus olhos, não estou sequer à espera que me deixes ver através dos teus olhos, nem sei tão pouco se quero ver o que vêem e do modo como vêem os teus olhos. Nada do que possas ver me levará a ver e a pensar contigo se eu não for capaz de aprender a ver pelos meus olhos e a pensar comigo.
"
(Iniciação - Ademar Santos)

17 de outubro de 2015

Cotidiano 04 - Grafologia por snap

Era uma noite normal quase como todas as outras, então fui conferir os snaps. Esse excelente app que desmascara que a vida das pessoas não é sempre feliz e vitoriosa, como o Facebook insiste, nem bonita e criativa, como o Instagram quer aparentar, nem reclamação a todo momento, como o Twitter nos mostra. Na verdade, a vida das pessoas é até muito parecida (menos a da Anitta), e as mulheres sempre estão com olheiras (menos as blogueiras de moda), e os gays, ah, os gays são sempre gays.

Quase todos os homens que sigo no snap são gays. Mas eu nem sabia disso.

Mas sim, um deles, que não era gay, falou que sabia um pouco de grafologia e sugeriu que escrevêssemos algo que ele daria uma breve analisada.

Há alguns dias eu tinha comentado que achava interessante isso, então, é claro que peguei um papel e escrevi umas coisas, e mandei pra ele.

Então ele disse, em dez segundos, as seguintes palavras:
- (Com cara de preocupado) Dificuldade de confiar em pessoas. Tão cuidadosa que já perdeu oportunidades por timidez ou medo.

Bom, não é algo tão difícil de se dizer, mas se eu fosse me definir em uma palavra negativa, seria desconfiada, a positiva eu não sei.

Sem nenhuma desconfiança pela pessoa, o que é curioso, não?! Passei umas 2 horas da minha vida lendo sobre grafologia e decepcionada por não ter encontrado nenhum e-book.

Aprendi umas coisas bem legais e já terei conteúdo para conversas estranhas com pessoas que mal conheço, mas quero conhecer.

Que nem naquele dia que eu conhecia um carinha há uns 20 dias e estava do lado dele no ônibus em um silêncio que nem era tão constrangedor e eu disse:
- Deixa eu ler tua mão.

Ele perguntou se eu sabia essas coisas e eu falei que sim. O que é uma mentira. Mas aconteceu uma vez algo parecido com a grafologia, mas não foi no snap, foi num show dos Beatles forever em uma feira do livro. 

14 de outubro de 2015

Cotidiano 03 - O primeiro dia de fato e oficial das férias

O primeiro dia de férias seria uma programação infantil para qual fui convidada a fazer parte e falei "sim" com uma facilidade tão grande que só pode ter sido Deus que falou por mim. Mas o evento foi cancelado. Então, o primeiro dia de fato e oficial de férias começaria muito bem, se fosse um dia normal de trabalho: Tentando fazer uma marca. Só que a marca já estava pensada, só teria que "passar pro computador". O que demorou metade de um dia para ser feito.

Durante isso, recebo uma ligação, uma ligação solicitando um favor, que seria pago. Ou seja, não é favor, é um trabalho. Não tenho problemas em fazer favores, a minha vida é fazer favores, mas tenho problemas em fazer favores, e até coisas pagas, nas férias:
- Eu te pago.
- (O problema não é dinheiro, é que não quero).
Era o que eu queria falar, mas não falei.

Então, depois de alguns minutos, recebo uma mensagem convidando pra participar de uma cantata de Natal. Que ouviram minha voz e canto bem, não posso desperdiçar um talento. Pra dizerem que canto bem devem tá realmente precisando de gente, e isso, sim, deve ser um favor. Mas não gosto de cantata, devo ser uma cristã um pouco inferior pra não gostar de músicas natalinas. Mas é a verdade. Não gosto de músicas natalinas, e acho que não gostaria de cantá-las também.

Reclamei alto de que queria ficar sem fazer nada, nada mesmo, por um instante nas férias. Meu irmão disse que tenho que aprender a dizer "não". Mas dizer "não" é o que mais tenho facilidade pra fazer.
Não gosto, não quero e não vou fazer muitas coisas. Ah! Mas como amo ser útil.

5 de outubro de 2015

Cotidiano 02 - O casaquinho preto

- Mãe, a senhora viu meu casaquinho preto?
- Aquele cinza?
- O casaquinho preto.
- Aquele cinza escuro?
- O casaquinho preto.
- Não sei do que tu estás falando.
- (silêncio)
- Ah! Não, tem que procurar.

Não adianta.
Ninguém vai poder realmente te ajudar se só tu sabes o que procuras.

3 de outubro de 2015

Cotidiano 01 - A borrachona

Quem usa salto sabe que quando aquelas borrachinhas do salto saem é um tormento. Então aqueles saltos grossos ajudam muito na preservação do sapato, e as borrachas do salto quase nunca saem. Mas eu enfiei o salto grosso em um buraco do tamanho exato do salto, e a borracha deslocou-se, desatritou-se, ou o que quer que seja, praticamente como a rosca/rolha de um vinho/bebidas do tipo. Até o barulho foi igual. Mentira, nem tanto. Mas sim, na verdade não é uma borrachinha, é uma borrachona. Mas não saiu toda, ficou pendurada.

Fiquei andando, na verdade, fiquei batendo o pé na calçada tentado colocá-la de volta no lugar, mas não entrava, desisti quando vi que pessoas já olhavam. Então fui andando com aquilo mal embutido. Sempre conferia pra saber se ela ainda estava lá, com a esperança de chegar ao meu trabalho e colocá-lá de volta.

Até que uma hora, quase perto do trabalho, fui conferir, e ela não estava mais lá. Fiquei muito triste. Muito mesmo. O meu sapato tem dois meses de vida e nunca mais será o mesmo, foi o que pensei, e não me conformei.

Na hora do meu almoço, fui pra rua procurar. Iria fazer todo o percurso que fiz pra chegar ao trabalho. Parei com os seguranças e falei:
- Vocês viram uma borrachinha do meu salto por aí? - Exatamente assim. E claro que não viram.
Tive que explicar, não ia ficar andando olhando pro chão sem me explicar.
Fiz o percurso e achei a borrachona.
Achei.
Meus olhos brilharam.
Fui com os seguranças, mostrei a borrachona e falei bem feliz:
- Obrigada, ainda bem que não chutaram.
Mas não coloquei na hora, aquilo era impossível.
Fiquei andando sem a borrachona, mas felizona por estar com ela.
Quando cheguei em casa coloquei a borrachona com um martelo de carne, era o que tinha.
Fiquei mais feliz ainda.
Então fiquei pensando nessa minha felicidade e tristeza idiotas e não tinha como concluir algo diferente:
Pode voltar atrás de pequenas coisas que farão falta, sim.
Pode ficar triste por besteira, sim.
Pode ficar feliz por qualquer coisinha perdida que foi encontrada, sim.